terça-feira, 2 de agosto de 2011

A Encarnação do Verbo, Parte II

4. O FATO DA ENCARNAÇÃO

O Verbo se fez carne. Sem dúvida alguma, o texto culminante acerca da Encarnação é Jo 1:14: "E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade."
Tomando por base o prólogo introdutório do Evangelho de João, especificamente o verso 14, temos seguramente a mais gloriosa declaração da realidade da Encarnação. Conforme bem expressou Russel Champlin, "... o majestático prólogo foi desenvolvendo impacto até este ponto, demonstrando a história do Logos antes de Sua Encarnação, a Sua eternidade essencial, a Sua divindade, a Sua função criadora; e agora‚ exposta aquela característica distintiva da doutrina joanina: o 'Logos', que faz contraste com a doutrina da primitiva filosofia grega, da teologia hebraica, dos pensamentos do neoplatonismo..."
O verso 14 do capítulo primeiro de João, conforme alguns eruditos contém não apenas a idéia central do prólogo de João, mas o cerne do Cristianismo, ou mesmo a idéia central da história do mundo inteiro, uma vez que todo o desenrolar da história do AT converge para a Pessoa de Cristo.
Esse verso faz parte da secção que incluem os versos catorze a dezoito, e que servem como uma espécie de "coroa" da doutrina do Logos, que por sua vez contém a mensagem essencial do Evangelho inteiro de João. A solene declaração "E o Verbo se fez carne" é um repúdio definitivo contra qualquer idéia gnóstica, no tocante à natureza do Logos, mormente contra aquele ensinamento gnóstico básico: o repúdio à natureza física humana do Logos. Um dos pilares do Gnosticismo era o ensino de que o corpo é a residência do princípio do mal. Embora o NT encontre muito mais valor no espírito humano do que no corpo do homem, não declara que este contenha o princípio do mal; que o corpo é um obstáculo, está certo, mas absolutamente que seja inerentemente perverso. Assim, o corpo não pode ser inerentemente mal, porque o Logos, o mais elevado de todos os seres espirituais, pode manifestar-Se em "carne" (1Tm 3:16). Notadamente, uma das doutrinas mais enfatizadas no Evangelho de João é exatamente o ensino da Encarnação real: Jesus foi um homem autêntico, não um mero fantasma; teve vida normal, sofreu tristezas e teve uma morte vergonhosa. Todas estas coisas seriam impossíveis, caso os ensinos dos gnósticos fossem verdadeiros. Esta mesma verdade é afirmada pelo apóstolo Paulo em Rm 8:3: "'... Deus, enviando Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne”. Alguns gnósticos ensinavam que o Cristo Espírito (O "Logos") teria descido sobre o Homem Jesus, por ocasião de Seu batismo, tendo-se afastado dEle quando da crucificação, uma vez que o verdadeiro Logos, na opinião deles, não poderia nem nascer como homem, nem muito menos morrer.


5. A NATUREZA DA ENCARNAÇÃO

Algumas considerações precisam ser apresentadas, a fim de se definir a natureza real e essencial da Encarnação do Senhor Jesus Cristo. Para isto, precisamos deixar bem claro quais os principais objetivos moveram o coração de Deus a enviar o Seu próprio Filho para ser "manifestado na carne". Senão, vejamos:

Ele participou de nossa natureza para destruir as forças do mal.

Para compreensão desta verdade bíblica, precisamos mencionar o texto de Hb 2:14: "E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também Ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo." Este texto, nos afirma então, que Jesus participou de nossa natureza para destruir as forças do mal por meio de Sua morte. Isto é, Ele igualou-Se à nossa natureza, a fim de que por meio dela e através de Sua morte, "aniquilasse o que tinha o império da morte...".


Ele assumiu nossa natureza para que assumíssemos a dEle.

Em segundo lugar, o Senhor Jesus "humilhou-Se", "aniquilou-Se", isto é, assumiu a nossa natureza para que nós, por nossa vez, pudéssemos assumir a Sua natureza. Este é o ensino presente em textos como Fp 2:7: "Mas aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens." E corroborado com textos como Cl 2:9: "Porque nEle habita corporalmente toda a plenitude da divindade."


Ele participou de nossa miséria para que participássemos de Sua plenitude.

"Que é Seu corpo, a plenitude dAquele que cumpre tudo em todos." (Ef 1:23). O Senhor Jesus assumiu nossa miserável condição, a fim de que por meio dEle pudéssemos participar de Sua plenitude. Isto é ratificado por Paulo, em Ef 3:19: "E conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus." Ele se esvaziou de Si para que fôssemos cheios dEle.


Ele andou em nossas trevas, para que andássemos em Sua Luz.

Isto é demonstrado de forma gloriosa em Jo 1:9: "Ali estava a Luz verdadeira, que alumia a todo homem que vem ao mundo." E também o texto maravilhoso de Cl 1:13: "O qual nos tirou das po¬testades das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do Seu amor." Jesus, por pouco tempo, andou em nossas trevas, a fim de que nós, eternamente, andássemos em Sua Luz!
Outros textos bíblicos podem ser utilizados para definição acerca da natureza da Encarnação. Entretanto, queremos nos ater, exclusivamente, em apenas mais um texto bíblico, Rm 8:3: "Porquanto o que era impossível à lei, visto como esta¬va enferma pela carne, Deus, enviando Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne”.
Este trecho fornece-nos uma importante definição acerca da natureza da Encarnação, pois demonstra de forma conclusiva, que a "carne" que Jesus tomou para Si mesmo era idêntica à de todos os demais homens (Hb 2:17; 4:15); isto é, Ele era um homem real, não a imitação de um homem, conforme pretendiam os docéticos , ou a representação humana parcial. Este texto também se reveste de tremenda importância, uma vez que põe por terra qualquer conjectura gnóstica, principalmente aquela que afirmava que apesar de Jesus ser humano, contudo, em Sua humanidade, Ele era uma espécie de super-homem, e que nessas condições fora exaltado acima das limitações materiais dos homens.

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