sábado, 1 de outubro de 2011

A Reconciliação

A RECONCILIAÇÃO

1. Definição do vocábulo

O substantivo "Reconciliação" é a tradução do termo grego katallage, que significa "uma mudança completa tanto no viver como no agir". Possui sua origem no verbo katallasso, que por sua vez é composto de allaso, "alterar", "trocar" (derivado de allos, "outro"). Em seu sentido mais lato, a palavra Reconciliação quer dizer essencialmente "troca", "permuta". Consiste na mudança da relação de hostilidade que pode existir entre dois indivíduos, passando eles a serem amigos entre si.
Na sua utilização no grego clássico, katallasso geralmente denota a restauração do entendimento original entre as pessoas depois da hostilidade ou do desagrado.
A idéia da palavra 'Reconciliação", conforme sugere o termo, é contemplada por toda a extensão das Escrituras Sagradas, onde verificamos a existência de quatro importantes passagens neotestamentárias que tratam sobre a obra de Cristo sob a ótica da Reconciliação, quais sejam: Rm 5:10-21; 2Co 5:18-21; Ef 2:11-22 e Cl 1:19-23:


2. Idéia básica da Reconciliação

No sentido cristão, a mudança de relações entre Deus e o homem é efetuada por Cristo. E isso, conforme Russel Norman Champlin, naturalmente, envolve:

a) O movimento de Deus em direção ao homem, isto é o próprio Deus Quem toma a iniciativa (Rm 5:6,8; 2Co 5:18; Ef 1:6; 1Jo 4:19). Esse movimento de Deus em direção ao homem visa quebrantar a hostilidade humana, recomendar o amor e a santidade divina ao homem, e convencê-lo da enormidade e gravidade de seus pecados e das conseqüências do mesmo.

b) Um movimento paralelo ao lado do homem em direção a Deus, no qual o homem cede ao apelo do amor de Cristo que foi ao auto-sacrifício, deixando de lado a inimizade, renunciando ao pecado, voltando-se para Deus com fé e obediência à Sua Palavra.

c) Uma conseqüente modificação do caráter do homem; a cobertura, perdão e purificação do pecado; uma total revolução em todas as suas disposições e princípios.

d) A correspondente modificação da parte de Deus, porquanto foi removido aquilo que era a única razão da hostilidade divina contra o homem.


3. Os elementos da Reconciliação

A Reconciliação provida por meio do Sangue de Cristo, redunda na completa salvação, isto é, na participação da plenitude de Deus, conforme Ef 3:19: "E conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus" e na participação de Sua própria Natureza: "...para que por elas fiqueis participantes da natureza divina..." (2Pe 1:4).
Ao estudarmos os elementos da Reconciliação, surge em cena a necessidade de uma análise mais acurada do texto de 2Co 5:19: "...Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecado, e pôs em nós a palavra da Reconciliação". Reconciliando consigo o mundo (2Co 5:19). Três verdades principais são enfocadas neste trecho:
a) a não imputação aos homens, de suas transgressões;
b) o ministério da Reconciliação; e
c) a outorga da palavra da Reconciliação.

a) Não imputando aos homens as suas transgressões. Isto significa que o pecado não é imputado sob a condição de fé; de outra maneira, se um homem não tem fé em Cristo e nem reconhece Sua soberania, os seus pecados lhe serão certamente imputados. O termo grego utilizado neste texto é logidzomai, que significa "levar em conta", "por na conta de". Isto quer dizer que se os pecados não forem imputados à alma os seus efeitos deletérios não poderão lhe prejudicar. Embora seja certo que o pecado macule, a Reconciliação por outro lado impede que a alma seja vítima da merecida punição.

b) O ministério da Reconciliação. Neste trecho podemos verificar que a Expiação certamente não é limitada, isto é, ela atinge o mundo inteiro e não somente os eleitos, pois o mundo inteiro é objeto da Reconciliação, embora só se torne eficaz na vida daqueles que confiam em Cristo.

c) Confiou a palavra da Reconciliação. Segundo Alford, citado por Russel Norman Champlin, podemos observar que "... a Reconciliação aqui aludida, vem de Deus para nós, de modo absoluto e objetivo, por meio de Seu Filho, e que assim Deus pode contemplar e tolerar complacentemente um mundo pecaminoso, recebendo todos os que se aproximam dEle em Cristo."

O ministério da Reconciliação poderia ter sido confiado aos anjos. Entretanto, foi entregue ao humilde homem. Exatamente aquele que foi criado para a perfeição e engodado caiu, tornando-se inimigo de Deus, Deus confiou o ministério de revelar que Ele mesmo reconciliou o homem conSigo, mediante a morte de Seu Filho.


4. Considerações finais

A maneira de se vencer uma inimizade é obviamente vencer a causa da disputa. Podemos pedir desculpas da palavra precipitada que falamos, podemos fazer qualquer restituição ou reparação apropriada. No entanto, em ambos os casos, o caminho da reconciliação é alcançado mediante um tratamento eficaz com a causa da raiz da inimizade. Foi exatamente isto que Deus fez ao enviar Jesus. Ele veio tratar do problema da inimizade do homem, tratando especificamente de derrotar a raiz dessa inimizade: o pecado. Essa "inimizade" fora anunciada pelo profeta Isaías, quando afirmou que os nossos pecados, as nossas iniqüidades, "fazem divisão" entre nós e nosso Deus. O apóstolo Paulo, escrevendo aos Efésios afirma que pela cruz, o Senhor Jesus veio "...reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades" (Ef 2:16). João, o Batista entendeu perfeitamente a necessidade de total extinção da raiz da separação, o pecado, quando disse: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo 1:29). Podemos afirmar que o Senhor Jesus Cristo "...morreu para eliminar nosso pecado. Dessa maneira ele tratou da inimizade entre o homem e Deus. Cristo pos a inimizade fora do caminho. E abriu largamente o caminho para que os homens possam voltar a Deus..."

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