terça-feira, 16 de junho de 2015

RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA
O QUE É? O QUE PRETENDE? O QUE TEM SIDO?


1. INTRODUÇÃO

Apesar de historicamente a Renovação Carismática Católica (RCC) já contar com algumas décadas de existência, muito pouca coisa se tem falado ou escrito acerca dela nos meios evangélicos. A grande verdade, é que a RCC continua sendo uma espécie de enigma para muitos evangélicos (inclusive líderes), que postulam as mais diferentes posições acerca dela. De um lado, existem os complemente céticos de que de fato possa haver uma "renovação" no seio do Romanismo. De outro, existem aqueles que cegamente defendem a RCC como se fosse uma denominação evangélica dentro do Catolicismo!
Mas, afinal, o que é Renovação Carismática Católica? O que de fato pretende a renovação Carismática dentro do contexto católico-romano e dentro do contexto evangélico? O que tem sido, na prática, esse "movimento"? Quais as implicações práticas da renovação Carismática?
Estas e outras perguntas procuramos responder neste pequeno trabalho. É óbvio, que de forma alguma pretendemos esgotar o assunto ou nos apresentar como "grande mestre" da RCC. Mas o que apresentamos, é fruto da nossa experiência pessoal nos grupos de oração carismáticos católicos e nos bastidores dessa RCC. Experiências essas vividas, quando ainda a RCC era considerada pela esmagadora maioria dos católicos como "bicho de sete cabeças". 
O presente trabalho destina-se, principalmente, aqueles que pretendem formar uma idéia sólida da RCC. Naturalmente, alguns católico-romanos terão acesso ao mesmo e creio que se o Senhor providenciar para que isto ocorra, poderá redundar em bênçãos para sua vida e instrumento de libertação.
Nossa oração, é que esse trabalho humilde possa ser subsídio útil para que a Igreja do Senhor possa ser edificada na Palavra do Senhor (cf. Jo 17:17).


2. O QUE É A RCC: RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA? 

Para podermos responder de forma correta a esta pergunta, é necessário, primeiramente, que respondamos a uma outra:

Como surgiu a RCC?

No tocante a esta pergunta, existe muita controvérsia, mesmo dentro dos meios romanistas. Muitos defendem a idéia de que antes de surgir como movimento oficial (com aprovação eclesiástica), a RCC surgiu não-oficialmente nos Estados Unidos. Particularmente, essa é a posição que cremos ser a mais verdadeira. É importante a observação de um autor católico-romano, S. Falvo, em seu livro "A hora do Espírito Santo", pág. 25, quando ele diz literalmente: "O novo Pentecostes, ou melhor, o despertar carismático, como fenômeno de massa, para a renovação da Igreja, no clima de Pentecostes, nasceu nos Estados Unidos, e fora da Igreja católica" - o grifo é nosso. Essa descrição de S. Falvo, na nossa opinião, é chave para entendimento do surgimento desse movimento. Vejamos que é admitido pelo romanismo que o movimento não surgiu dentro do Catolicismo. Outra observação histórica, é que o papa João XXIII, de pontificado relativamente curto (1958-1963), um homem que segundo a história contemporânea e o próprio catolicismo "não possuía inimigos", foi quem oficialmente, em audiência pública na Praça de São Pedro, em Roma, na abertura do conhecido Concílio Ecumênico Vaticano II, em 25 de dezembro de 1961, na sua oração pediu a Deus um novo derramar do Espírito, um novo Pentecostes. É interessante, também, observar, que foi o papa João XXIII quem convocou esse Segundo Concílio Ecumênico do Vaticano, embora Não tenha tido o privilégio de concluí-lo, pois a morte o alcançou antes disso (em 3 de junho de 1963). É muito curioso o fato de que o próprio Magistério da Igreja católica Não nega que a RCC surgiu fora dos limites romanistas e dentro do ambiente ecumenista do Vaticano II. 

Afinal... o assopro veio de Deus ou da "virgem"?

Paulo VI, que segundo os romanistas foi quem levou a efeito os propósitos ecumênicos do Segundo Concílio do Vaticano, sucedeu a João XXIII. "Em 1967, celebrava-se o qüinquagésimo aniversário das aparições... de Fátima. O Papa Paulo VI dirigiu-se como peregrino à Cova da Iria (lugar das aparições, N.R.), para pedir à Virgem a paz do mundo, e, sobretudo a paz no interior da Igreja. Ora, foi exatamente naquele ano, para Não dizer naqueles dias que se verificou a misteriosa... coincidência. Exatamente naqueles dias manifestaram-se os primeiros sinais do despertar carismático na Igreja católica... Queremos crer que a Virgem, em resposta às angustiosas súplicas do Vigário de Cristo, tenha respondido com uma nova e abundante efusão do Espírito Santo, o verdadeiro, o único Pacificador dos ânimos..." (S. Falvo, em "A hora do Espírito Santo", pág. 40). Gostaríamos que nesse ponto em particular, o leitor atentasse para o fato de que segundo o historiador romanista citado, a resposta veio da Virgem. Outro fato de importância capital: o mesmo historiador afirma que a abundante efusão veio também da Virgem!
Os fatos mencionados por S. Falvo são bem conhecidos no ambiente da RCC. Quais sejam:
Primavera de 1967. Um grupo de sacerdotes católicos, religiosas, estudantes e professores da Universidade de Duquesne, sentem-se desiludidos e desmoralizados. Essa desilusão serve para que se apercebessem de algo de concreto na fé. Em seguida, cai-lhes nas mãos o famoso livro "A Cruz e o Punhal", do famoso pastor de Times Square, David Wilkerson. A leitura desse livro leva-os a compreenderem da necessidade de uma experiência pessoal com o Espírito Santo. Depois de alguns meses de oração perseverante, pedem a alguns Pentecostais que orem sobre eles para receber o batismo no Espírito. Os efeitos são imediatos e prodigiosos. Essas pessoas sentem suas vidas transformadas, com um profundo sentimento de paz e de alegria, bem como poder para testemunhar. Além disso, sentem-se revestidos de um poder sobrenatural, verificado através da experiência do falar em outras línguas, as profecias, as curas, o discernimento dos espíritos... Assim, nasce a RCC.
"No dia 1º de março de 1967, realiza-se o primeiro encontro de oração, com alguns pentecostais: é o primeiro encontro de oração carismática de caráter ecumênico..." (S. Falvo, "A hora do Espírito Santo", pág. 42).


E então? O que vem mesmo a ser a RCC?

Para esta resposta, gostaríamos em primeiro lugar, de citar o que afirma o próprio S. Falvo (romanista), em seu livro "A hora do Espírito Santo", pág. 105 e 106: "... A renovação Carismática... é reviver a experiência do Pentecostes... É restituir à Igreja sua verdadeira face... Portanto Não se trata de novas estruturas, nem de novas organizações ou de novas formas de práticas de piedade, mas de um sopro de vida nova... nas atuais estruturas da Igreja..." Também o mesmo autor enfatiza, nas págs. 103 e 104, do referido livro o que Não é a RCC, que nos serve para compreender o que de fato é, visto que nos informa o que ela Não é. Vejamos: "Excluímos, obviamente, da maneira mais categórica, de que se trate de um movimento tendente a alterar, modificar, ou, de qualquer forma, pôr em crise as atuais estruturas da Igreja... Nada em comum com novas doutrinas teológicas...".


3. O QUE PRETENDE A RCC?

Bem, agora que temos analisado historicamente como surgiu e o que de fato é a RCC, passaremos a analisar, à luz das Escrituras Sagradas, o que pretende a mesma. Para uma melhor compreensão, dividiremos o assunto em: o que pretende a RCC dentro e fora do catolicismo romano.


O que pretende a RCC dentro do contexto católico-romano?

Esta é uma pergunta de muita importância. Será o que de fato pretende a RCC? 
Se analisarmos a história deste movimento a fundo, ou mesmo que o analisemos somente tendo por base os subsídios históricos aqui apresentados, veremos que a RCC, surgiu num contexto bastante peculiar. O Senhor Deus havia prometido: "E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do Meu Espírito derramarei sobre toda carne..." (At 2:17; cf. Jl 2:28). Conhecemos o que o Senhor realizou em cumprimento à Sua promessa nos territórios da Armênia e da Rússia no último quartel do século XIX, bem como o que realizou nos Estados Unidos no início deste século, derramando do Seu Espírito sobre milhares de vidas, concedendo-lhes poder para testemunhar de Jesus (cf. At 1:8). Sabemos também o que o Senhor realizou dentro das chamadas "Igrejas Históricas" nas décadas de 50 e 60.
Assim, o Magistério da Igreja católica percebeu a necessidade de integração no novo modelo eclesial que estava surgindo, onde a frieza da liturgia sem vida era substituída pela espontaneidade do louvor, da adoração e da ação de graças. Até então, o ápice da liturgia romanista era celebrado em latim, não importando se os fiéis sabiam ou não o que era recitado. A monotonia havia invadido o romanismo depois de séculos de trevas... Assim, os observadores mais acurados do Vaticano, perceberam que só havia um meio de deter o crescimento daquilo ao qual se opunham: unir-se a eles, tornando-se como eles!
Talvez nesse contexto, você esteja perguntando se de fato houve autenticidade naquilo que ocorreu com aqueles da Universidade de Duquesne. A resposta é sim!!! Não apenas com aqueles, mas com milhares e milhares de outros católicos que tiveram a experiência genuína do Batismo com o Espírito Santo. A questão não está centrada no que a RCC pretende, mas no que o romanismo pretende com ela!
Ainda sobre o que pretende a RCC, cabe-nos citar algumas palavras do livro "Orientações Teológicas e Pastorais da RCC", pág. 12: "A renovação Carismática não quer promover um retorno simplista, despojado de todo sentido histórico, a uma Igreja idealizada no Novo Testamento... Seu desejo é continuar a tradição católica..." Nesse mesmo livro, afirma-se que "a renovação carismática não dá nada à igreja que ela já não possua" (pág. 35 - o grifo é nosso).
Em suma: a RCC surgiu no seio do romanismo como meio de deter ou tentar deter o crescimento das chamadas "igrejas de fogo". A filosofia apresentada é bastante elementar: porque ser evangélico, se a RCC possui todos os elementos dos evangélicos: louvor, ADORAÇÃO, línguas, profecias, curas...?


O que pretende a RCC fora do contexto romanista?

RCC é encarada no seio do catolicismo romano, como o encarnar dos propósitos ecumenistas propostos no Concílio Ecumênico Vaticano II. É visto no seio do romanismo, como uma forma de tornar possível o propósito do pai do Vaticano II, João XXIII: "Valorizemos o que nos une e deixemos de lado o que nos divide".
Para entendermos o alcance desse objetivo ecumenista, vale ressaltar que na conclusão de um sermão, um pastor evangélico do Texas, EUA, afirmou: “... Ave, Maria, agraciada por Deus! Vós nos mostrastes o que significa confiar e obedecer. Ajudai-nos agora a dizer como vós..." (John R. Claypool, em "Maria e o Espírito Santo", pág. 66).
Convém transcrever aqui o que afirma o livro "Orientações Teológicas e Pastorais da RCC", à pág. 59: "É evidente que a renovação Carismática é uma relevante força ecumênica e é de fato ecumênica por sua natureza".


4. O QUE TEM SIDO, NA PRÁTICA, A RCC?

O apóstolo Paulo afirma-nos que "todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados pelo Seu decreto" (Rm 8:28). Com base neste único verso, podemos afirmar que Deus tem usado tremendamente a RCC para salvação de vidas! Sim: para salvação de vidas! Pois se há um aspecto marcante nessa RCC, é que os carismáticos têm sido levados a ler a Palavra, e segundo o que disse o próprio Senhor Jesus (Jo 8:32): "conhecereis a verdade (1ª fase) e a verdade vos libertará" (2ª fase).
Assim, podemos afirmar, por experiência própria, que a RCC pode ser definida como "um tiro que saiu pela culatra". Se o Magistério romano pretendia segurar os fiéis, o que tem ocorrido é que muitas e muitas pessoas (como eu mesmo) têm conhecido a Jesus e têm sido libertos das garras de Satanás. Aleluia!!!


5. QUAIS AS IMPLICAÇÕES PRÁTICAS DA RCC?

Agora que temos analisado aspectos históricos da RCC, gostaríamos de analisar alguns aspectos práticos da mesma.
O primeiro aspecto que gostaríamos de analisar: de fato alguém do romanismo pode receber a experiência do Batismo com o Espírito Santo? A resposta é, sem dúvida alguma, sim. O Senhor afirmou que derramaria do Seu Espírito sobre "toda carne", (pasan sarka, no grego), isto é, cada (ou toda sorte de) carne. Isto é, a promessa é para todos. Talvez alguém queira apresentar uma objeção lógica: como é que então, alguns dos carismáticos que aparentemente receberam o derramar do Espírito continuam adorando imagens de escultura? A resposta a esta pergunta está relacionada com outra pergunta: será que todos que "aparentemente" receberam algo do Espírito o receberam de fato? Como fruto de minha experiência pessoal como "ex-carismático-católico", e de minha pesquisa pessoal na Palavra de Deus, posso afirmar com certeza de que há uma forma de se discernir o verdadeiro do falso no que tange a experiência dos católicos-carismáticos. Três versos da Bíblia podem nos servir de ajuda. O primeiro deles é At 5:32: "... e também o Espírito Santo que Deus deu aqueles que lhe obedecem". O segundo é 2Co 6:16: "... que consenso tem o templo de Deus com os ídolos?". O terceiro e último é Rm 8:14: "Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus". Concluindo: se quisermos saber se verdadeiramente alguém da RCC recebeu a plenitude do Espírito Santo, basta observarmos se saiu ou se continua lá! (cf. Ap 18:4).
Outro aspecto prático da RCC é que o carismático geralmente é pessoa sincera, que não admite ser um idólatra, ou que às vezes, tenta provar, que o romanismo não seja idólatra.
Cremos que esta questão está muito mais relacionada com os católicos-carismáticos do que propriamente com os evangélicos que estarão lendo esse trabalho.
Esta é uma velha afirmação romanista. Em regra geral, quase todos os católicos não admitem que adoram imagens de escultura. É necessário recordarmos que esse trabalho não é um tratado de idolatria ou mariolatria ou um instrumento de ofensa, mas isto sim, um pequeno subsídio para se entender a RCC. Entretanto, gostaríamos de abordar esse assunto de forma bem clara. Não estaremos citando versos bíblicos do abundante manancial de condenações escriturísticas à idolatria. Gostaria apenas de citar o que estabelece o Código de Direito Canônico (o Documento que rege o Catolicismo romano - N.R.), em seu cânon 1186: "Para fomentar a santificação do povo de Deus, a Igreja recomenda à veneração especial... a sempre Virgem Maria, Mãe de Deus..." Também o cânon 1187 que diz: "Só é licito venerar, mediante culto público, aqueles servos de Deus que foram inscritos pela autoridade da Igreja..." (o grifo é nosso). E por fim, o cânon 1188: "Mantenha-se a praxe de propor imagens sagradas nas igrejas, para veneração dos fiéis...".
Um último aspecto que gostaríamos de enfocar, é o caso da manutenção da identidade católico-romana. Eu, pessoalmente, participei de reuniões de oração da RCC, onde após um longo período de oração, introduzia-se ao som de algum hino mariolátrico alguma imagem de Maria, preferencialmente a "Aparecida". Ademais, temos notícias orais de que grupos carismáticos de Brasília que durante meses realizaram trabalhos "evangelísticos" em logradouros públicos foram obrigados a usar "distintivos" para que a identidade católico-romana não se perdesse.


6. CONCLUSÃO

Cremos que em razão da complexidade e abrangência desse importante assunto, esse trabalho servirá apenas como subsídio. Mas gostaríamos de expressar, ao final desse trabalho, nosso desejo de que a Igreja do Senhor Jesus possa valer-se da RCC como instrumento de evangelização, vez que se há um ponto positivo na RCC, este ponto seja aquilo que os bispos católicos têm definido como "perigo de fundamentalismo bíblico", isto é, o "perigo santo" de que lendo a Bíblia, o católico se converta e seja feito nova criatura. Esta é nossa oração.

"Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz..." (Ap 3:22).


7. BIBLIOGRAFIA

A BÍBLIA SAGRADA. Edição Revista e Corrigida no Brasil. Rio de Janeiro, Imprensa Bíblica Brasileira, 1994.
ALDUNATE, Pe. C. & outros. A Experiência de Pentecostes. São Paulo, Edições Loyola, 1982.
CHAMPLIN, Russel N. & BENTES, João Marques. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia (6 volumes). São Paulo, Associação Religiosa Editora e Distribuidora Candeia, 1991.
FALVO, S. A Hora do Espírito Santo. São Paulo, Edições Paulinas, 1982.
PAULO VI, Papa. Paulo VI e a Renovação Carismática. São Paulo, Edições Loyola, 1978.
ROSAGE, David & outros. Maria e o Espírito Santo. São Paulo, Ed.Loyola, 1983.
SUENENS, Cardeal. Orientações Teológicas e Pastorais da Renovação Carismática Católica. São Paulo, Edições Loyola, 1979.
TAYLOR, William Carey. Dicionário do Novo Testamento Grego. 8ª ed. Rio de Janeiro, JUERP, 1986.

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