SERÁ QUE DEUS PRECISA DE NÓS?
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos temos assistido à
ascensão da Teologia centrada no homem e nos seus interesses. Uma clara
distorção do enfoque bíblico-teológico ortodoxo, que sempre focalizou Deus como
Centro absoluto de suas investigações e considerações. Na verdade, o que está
se delineando diante de nós é uma extrema popularização do Antropocentrismo, inclusive
no ambiente religioso.
"Deus precisa de você!". Esta
é uma afirmativa extremamente comum em nossos dias. Mas será que, realmente,
Deus precisa de nós? O que nos ensina a Bíblia sobre este assunto?
Estaremos investigando um pouco do ensino
bíblico acerca da Pessoa de Deus e algumas
das informações acerca de nós mesmos.
Analisando tais informações, seguramente estaremos em condições de responder a
tão importante pergunta.
Vamos começar a estudar a Pessoa de
Deus, analisando um pouco das informações de que dispomos a respeito de Sua
Natureza. Obviamente, Deus pode ser revelado e crido, mas jamais
assimilado em Sua plenitude, tampouco pode ser analisado num tubo de
ensaio de laboratório. Se nem os céus, nem os céus dos céus podem conter
a Pessoa de Deus ou o conhecimento pleno acerca dEle (cf. 1Rs 8:27 e 2Cr 2:6;
6:18), quanto mais nós, seres finitos.
O Catecismo de Westminster tenta
dimensionar Deus quando diz: "Deus é espírito, infinito, eterno e imutável
em Seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade" – o
grifo é nosso.
A vida de Deus é intimamente ligada ao
próprio fato da existência de Deus. Há coisas que existem e no entanto não têm
vida, como é o caso do Pão de Açúcar, na cidade do Rio de
Janeiro, os Alpes Suíços, a Cordilheira dos Andes, o Monte Everest
ou a Serra do Caparaó. Mas Deus não só existe, Ele é vivo; Ele possui vida. Ou
melhor, Deus é a própria vida (Jo 5:26). DEle, nEle e para Ele emana tudo
e todos os seres criados, animados e inanimados. São abundantes os
textos das Escrituras que falam da vida de Deus (e.g. Jr 10:10-16).
Vida é um termo que não pode ser
plenamente definido. A ciência define-a como uma correspondência entre os
órgãos e o ambiente. Porém, quanto a Deus, significa muito
mais que isso, visto que Deus não tem ambiente vivencial como temos
aqui. A vida de Deus é Sua atividade de pensamento, sentimento e vontade.
É o movimento total e íntimo de Seu Ser que O capacita a formar propósitos
sábios, santos e amorosos e a executá-los.
O ensino de que Deus é um ser pessoal,
contrapõe-se ao ensino panteísta, segundo o qual Deus é tudo e tudo é
Deus; que Deus é o Universo e o Universo é Deus; que Ele não existe independentemente
daquilo que se alega ser Sua criação.
Pode-se definir personalidade como
existência dotada de autoconsciência e do poder de autodeterminação, ou ainda como
existência dotada de sentimentos, inteligência e vontade. Não se
deve, portanto, confundir personalidade
com corporalidade ou existência
corporal material, composta de cabeça, tronco e membros, tratando-se do
homem. Corretamente definida, a personalidade abrange as propriedades e
qualidades coletivas que caracterizam a existência pessoal e a distinguem da
existência impessoal e da vida normal. A personalidade, portanto, representa a
soma total das características necessárias para descrever o que é um ser
pessoal.
O nome é uma das mais fortes evidências
da personalidade de um ser. Ao revelar-Se a Moisés, Deus revela Seu Nome
(cf. Êx 3:14). Essa revelação é muitíssimo importante. Em nossas Bíblias em
português, o verbo hebraico hayah é geralmente traduzido como “ser”. Na verdade, este é um
verbo muito importante para nossa compreensão, pois significa basicamente "ser",
mas também "tornar-se", "vir a ser", "existir", "acontecer".
Por isto, o Nome próprio de Deus é exatamente YHWH, ou seja,
“Aquele-Que-Existe” ou “O Auto-Existente”, o Nome inefável, o impronunciável Nome
Próprio de Deus.
Para melhores esclarecimentos,
precisamos analisar melhor a questão do Nome Divino. Muitas vezes, quando se
levanta este questionamento, muitos ficam preocupados e automaticamente
relacionam esta discussão com os pretensos “Testemunhas de Jeová” ou grupos
assemelhados. Obviamente, nossa discussão nada tem a ver com a aludida seita ou
grupos, pois na presente dispensação somos chamados a ser testemunhas de
Jesus (veja At 1:8). Ademais, a Bíblia declara que “Quem não honra o Filho não honra o Pai que O enviou” (cf. Jo
5:23b). Eles (as pretensas “Testemunhas”), são, na verdade, falsas testemunhas. Portanto, nossa discussão nada tem a ver com as
pretensões deles.
Feitas as observações acima, queremos
demonstrar de forma clara e inequívoca o grande erro que se encontra na confusão
entre o Nome de Deus e Seus Títulos. Iniciemos analisando a utilização de
"nomes divinos" por parte dos próprios judeus. É por demais
irônico que exatamente eles, que foram justamente os primeiros a adotar a
concepção da Unidade de Deus tenham aposto a Ele um número
surpreendente de designações. Este fato, inclusive, tem sido objeto de
várias especulações, tanto por parte de historiadores bíblicos, de filólogos
e mesmo de antropólogos culturais. Entretanto, costuma-se concluir
que todas essas discussões resultaram de conclusões pouco firmes e em
escassos esclarecimentos. A hipótese mais razoável, possivelmente, é de que
cada um dos inúmeros "nomes" de Deus que aparecem na Bíblia
representam, meramente, um atributo físico ou moral dEle, expresso em termos
humanos.
Em linhas gerais, alguns eruditos
judeus costumam afirmar que Deus tenha dito a Moisés: "Quando estou julgando a raça humana chamo-Me Elohim. Quando combato os que
praticam o mal, chamo-Me Sabaot.
Quando relembro os pecados do homem, chamo-Me El Shadai. Quando Me apiedo do mundo, chamo-Me YHWH”.
Essa aparente
"confusão" mesmo por parte do povo da Bíblia, possui uma razão
histórico-cultural. Deus havia estabelecido:
"Não tomarás o Nome do Senhor teu Deus em vão; porque o
Senhor não terá por inocente o que tomar o Seu Nome em vão." (Êx
20:7). Dessa palavra do Senhor, adveio uma extrema reverência do judeu
para com o Nome YHWH, o Nome Próprio de nosso Deus. Essa reverência era
tamanha, que o Nome veio a ser pronunciado em raríssimas ocasiões. Desta forma,
para não correrem o risco de cair em desobediência ao mandamento de Êx
20:7, o Nome era sempre substituído por adon, ”Senhor” ou adonai, "meu Senhor", esses,
por sua vez, notadamente, títulos. Também com relação à leitura e cópia
do texto sagrado, haviam cuidados especiais. Em relação à cópia, é
curioso o fato de que era reservada uma pena de ouro apenas para
escrever o Nome. O Nome de Deus, para os copistas e os judeus em geral, é
um Tetragrama que eles consideram impronunciável (inefável). Desta forma,
optava-se por Títulos e não pelo Nome, pois este estava revestido
de extremado respeito.
Na auto-revelação de Deus, Ele próprio
disse: “... este é o Meu Nome..."
(Êx 3:15). Está claro, pois o Senhor não disse: “... este é um dos meus nomes...". Muito pelo contrário. Ele
utilizou um pronome demonstrativo singular a fim de enfatizar a Revelação
de Seu Único Nome. Aliás, a Bíblia em parte alguma fala sobre nomes diferentes aplicados a Deus. Deus
só tem um Nome: Javé ou Yahweh. Jeová
é uma corruptela obtida com as vogais de adonai. Com exceção deste, os outros
"nomes" não passam de títulos ou descrições.
No escopo de nossa proposta, ainda
precisamos analisar a questão dos atributos de Deus. A palavra atributo, vem do latim ad,
"para" e tribuere, "atribuir". Ou seja, "aquilo que é
atribuído a alguém ou a alguma coisa". Na Teologia cristã, esse termo veio
a ser utilizado para indicar aquelas qualidades morais ou
propriedades (atributos) atribuídas a Deus, como partes de Sua Natureza.
Geralmente, analisa-se os atributos de
Deus sem atentar devidamente a uma qualificação Divina que se reveste de enorme
significado: a Solidão de Deus.
Talvez você esteja questionando: Mas, Solidão!?
Sim, Solidão.
Solidão é aquele atributo divino que
nos mostra que uma vez que Deus é Eterno, Todo-Poderoso, Onipotente e
Auto-Existente, conclui-se que Ele também é Auto-Suficiente. Ou seja, Ele Se
basta a Si mesmo! Vejamos os textos bíblicos que nos mostram esta verdade: Dt
33:26: “Não há outro, ó Jesurum,
semelhante a Deus, que cavalga sobre os céus para a tua ajuda e, com a sua
alteza, sobre as mais altas nuvens!”. 1Sm 2:2: “Não há santo como é o Senhor; porque não há outro fora de Ti; e rocha
nenhuma há como o nosso Deus”. 2Sm 7:22: “Portanto, grandioso És, ó Senhor Jeová, porque não há semelhante a Ti,
e não há outro Deus, senão Tu só, segundo tudo o que temos ouvido com os nossos
ouvidos”. 1Rs 8:60: “... para que
todos os povos da terra saibam que o Senhor é Deus e que não há outro”. 1Cr
17:20: “Senhor, ninguém há como Tu, e não
há Deus além de Ti, conforme tudo quanto ouvimos com os nossos ouvidos”. Sl
73:25: “A quem tenho eu no céu senão a
Ti? E na terra não há quem eu deseje além de Ti”. Is 45:5: “Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de
mim, não há deus; eu te cingirei, ainda que tu Me não conheças”. Is 45:6:
“Para que se saiba desde o nascente do sol e desde o poente que fora de mim não
há outro; eu sou o Senhor, e não há outro”. Is 45:22: “Olhai para Mim e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque Eu
Sou Deus, e não há outro”. Jl 2:27: “E
vós sabereis que Eu estou no meio de Israel e que Eu Sou o Senhor, vosso Deus,
e ninguém mais; e o Meu povo não será envergonhado para sempre”.
Ora, se não há outro semelhante a Deus,
isto demonstra que desde toda a eternidade, Deus, o Único Deus, é totalmente
Único. Ele não necessitava, nem necessita de nada, nem de ninguém, pois Ele Se
basta a Si mesmo.
Entretanto, precisamos nos lembrar que
Deus, por um livre desígnio de Sua própria vontade, resolver criar o homem. As
Escrituras nos revelam que o propósito fundamental desta criação é o louvor da
glória de Deus: Rm 11:36; Ef 1:6,12; Hb 13:15.
2. O
HOMEM
Agora que estudamos um pouco sobre
Deus, vamos dar sequência falando acerca do homem. Vamos partir da seguinte
pergunta: O que é o homem?
Ao que parece, Jó foi o primeiro dos
homens mencionados na Bíblia a
interrogar acerca do homem. Foi ele quem perguntou a Deus: "Que é o homem, para que tanto o
estimes, e ponhas sobre ele o Teu coração, e cada manhã o visites, e cada
momento o provês?" (Jó 7:17,18). Essa inquirição também foi realizada
pelo salmista: "Que é o homem mortal
para que Te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites?"
(Sl 8:4). E também: "Senhor, que é o
homem, para que o conheças, e o filho do homem, para que o estimes?"
(Sl 144:3).
Seguramente o aspecto de
transitoriedade da vida humana é algo marcante. O corpo humano e inegavelmente
volátil. Alguém definiu assim a transitoriedade da vida humana: "O homem é um embrulho postal que a
parteira despachou ao coveiro." A Bíblia, não obstante, fala do homem
físico natural como um ser cuja existência física está limitada aos poucos anos
que Deus lhe deu na terra.
As
Escrituras apresentam a vida
terrena do homem em termos de absoluta transitoriedade: uma sombra
(Jó 8:9), os dias de um
jornaleiro (Jó 7:1), um correio
(Jó 9:25), palmos
(Sl 39:5), a urdidura de um tecelão (Is 38:12) e vapor (Tg
4:14).
A Bíblia registra alguns nomes para
designar o corpo humano, quanto a transitoriedade de sua existência e posição
que ocupa no plano eterno de Deus. A Bíblia o chama "casa",
"tabernáculo" e "templo". (1Co 6:19; 2Co 5:1-4).
Os
filósofos pagãos falavam do corpo com
desprezo, e consideravam-no um
empecilho ao aperfeiçoamento da alma, pelo que almejavam o dia quando a alma
estaria livre de suas complicações
e enredosas roupagens. É especialmente curiosa a
postura dos gnósticos neste
sentido, pois afirmavam veementemente que a matéria é a essência mesmo do mal,
fato pelo qual levou alguns dentre eles a adotarem uma posição
"docética" (do verbo gr. dokeo,
parecer) em relação ao Senhor Jesus, pois segundo eles, Jesus jamais poderia ter Se feito homem, pois isso
anularia Sua Divindade.
No entanto, as Escrituras Sagradas não apresentam o corpo
do homem em termos semelhantes. Pelo contrário, em toda a parte, a Bíblia trata
do corpo do homem como obra das
mãos de Deus, que deverá ser
apresentado a Deus (Rm 12:1) e que deve
ser usado para a glória de Deus (1Co 6:20). Uma coisa de suma importância
a ser observada é o seguinte: porque o livro de Levítico trata de forma tão acentuada de leis
que governam a vida física dos israelitas?
Obviamente, para ensiná-los que o corpo, como instrumento da alma e do
espírito, deve conservar-se forte e santo.
Evidentemente, o corpo é terreno (1Co 15:47), e como tal, um
corpo de humilhação (Fp 3:21),
sujeito a enfermidades e à morte (1Co 15:53), de maneira que gememos por um
corpo celestial (2Co 5:2). Mas, na vinda de Cristo, o mesmo poder que vivificou
a alma, transformará o corpo, completando assim a Redenção do homem.
E a garantia de que essa mudança ocorrerá é o Espírito que nele habita
(Rm 8:11; 1Co 5:5).
CONCLUSÃO
Pelas considerações apresentadas,
podemos concluir que Deus não precisa de nós. Nós, sim, precisamos
desesperadamente dEle, pois sem Ele, somos apenas pó e cinza (Gn 18:27). Se há
alguma virtude em nós, esta reside unicamente no fato de que somos alvo do amor
de Deus (Jo 3:16) e por causa deste amor, podemos ser Santuário do Deus Vivo! A
Ele a glória pelos séculos sem fim!
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