LIÇÃO 01 – INTRODUÇÃO E ESBOÇO DA CARTA AOS FILIPENSES
INTRODUÇÃO
No presente estudo, iniciaremos uma análise
textual da Carta de Paulo aos Filipenses.
Sem dúvidas, serão oportunidades ímpares de estudarmos esta, que é uma das mais
maravilhosas Epístolas da pena fecunda do apóstolo dos gentios!
1. A IGREJA EM FILIPOS
A Igreja Cristã em Filipos teve sua origem
com os próprios esforços de Paulo, durante a sua chamada segunda viagem missionária
(cf. At 16:12-40. Tendo ouvido o chamado “Passa a Macedônia e ajuda-nos” (At
16:9), Paulo alterou os seus planos tencionados de continuar labutando na Ásia Menor;
e foi assim que nasceu a missão européia e a Igreja Cristã no continente
europeu. Já que a segunda viagem missionária tem sido datada entre 48 e 51
d.C., a visita a Filipos deve ter ocorrido no início desse período.
Policarpo, em sua epistola aos Filipenses
(3:2), indicou que o apóstolo dos gentios havia
escrito diversas cartas para eles. Embora não tenhamos como saber quantas
dessas cartas foram escritas por Paulo, tem sido quase universalmente aceito
que nossa epístola canônica aos Filipenses representa uma ou mais das cartas genuínas
do apostolo Paulo àquela comunidade cristã.
Embora Paulo houvesse sido encarcerado e
tivesse sofrido várias indignidades na cidade de Filipos, parece que ele nutria afeição toda especial pelos
membros da Igreja Cristã dali. A sua Epístola aos Filipenses é a mais pessoal e espontânea de todas as
missivas que conhecemos, saídas da pena de Paulo. Nessa Epístola
transparece um afeto que parece jamais
ter sido perturbado por conflitos e disputas, especialmente acerca da questão legalista,
o que se verifica em diversas outras das epistolas paulinas. Não obstante, podemos
considerar a passagem de Fp 3:1 e ss., que encerra uma advertência acerca dos
perigos do legalismo.
Ordinariamente, Paulo se mantinha independente das Igrejas locais, do ponto de
vista financeiro, provavelmente devido ao fato que anteriormente havia
perseguido a Igreja de Cristo, o que o levou a acreditar que não deveria servir
de fardo para os crentes, mas antes, deveria prestar-lhes um serviço gratuito, abundante e voluntário. Não
obstante, Paulo não rejeitou alguma ajuda financeira dos crentes de Filipos, mas
recebeu, pelo menos por duas vezes, algum dinheiro, quando se encontrava na
cidade próxima de Tessalônica (cf. Fp 4:10). Mais tarde, quando Paulo se
encontrava aprisionado, os crentes filipenses se lembraram novamente dele, e, através
de Epafrodito, um dos membros daquela Igreja, uma vez mais lhe enviaram uma demonstração
palpável de seu amor cristão. Foi assim que, no retorno de Epafrodito a
Filipos, o apóstolo lhes enviou a Epístola aos Filipenses, a qual é,
essencialmente, uma missiva de agradecimento;
mas Paulo também se aproveitou do ensejo para
dissertar sobre vários temas, que ele julgou serem benéficos aos seus
leitores, segundo se depreende de Fp 2:25-28.
2. AUTORIA
Os quatro grandes livros clássicos de Paulo são
as Epístolas aos Romanos, aos Gálatas e 1 e 2 aos Coríntios. Praticamente nenhum
erudito tem duvidado da autenticidade desses quatro livros do NT. como obras
genuinamente paulinas. Elas são tão semelhantes entre si, no que diz respeito
ao estilo, ao vocabulário, à estrutura das sentenças e a todas as demais considerações
literárias que é necessário aceitar
ou rejeitar juntamente todas elas. Por esse motivo, pouquíssimos
estudiosos têm provocado qualquer debate em torno da autoria dessas quatro
epistolas. Além dessas quatro,
outras cinco Epístolas têm sido
aceitas como paulinas, com pouca disputa, a saber, Filipenses, Colossenses, 1 e
2 aos Tessalonicenses e Filemom.
Esta Epístola
aos Filipenses é
aceita como paulina por quase todos os eruditos, embora alguns deles pensem que
ela representa mais de uma epístola, sendo realmente uma composição de peças da
correspondência paulina, mais ou menos as de 1 e 2 aos Coríntios são tidas como
representantes de pelo menos quatro missivas, mas que chegaram até nós agrupadas em apenas duas epístolas.
Dentre as treze epístolas neotestamentárias aceitas como paulinas, sete delas foram escritas na prisão: Filipenses,
Efésios, Colossenses, Filemom, 1 e 2 Timóteo e Tito, embora seja quase certo
que nem todas as sete foram escritas da mesma cidade, e por ocasião do mesmo período
de aprisionamento.
A própria epistola aos Filipenses (1:1) reivindica a autoria paulina. Timóteo é
ali apresentado como um de seus associados, o que sabemos estar de conformidade
com a vida de Paulo (cf. Fp 1:1 e 2:19). Além disso, as referências ao seu aprisionamento
concordam com aquilo que sabemos ser verdade, acerca dos sofrimentos de Paulo
(Fp 1:7). O autor também se refere, de forma muito natural à sua anterior pregação
na Macedônia (cf. Fp 4:15), bem como ao fato que os crentes de Filipos lhe
tinham enviado dádivas (cf. Fp 4:10 e 2:25-28), o que não é um elemento que um
forjador tivesse querido incluir, porquanto ordinariamente era costume de Paulo
viver independentemente das Igrejas, quanto ao aspecto financeiro. O conteúdo geral, o estilo e o vocabulário dessa
Epístola, tudo aponta para a autoria
paulina.
3. TEMAS PRINCIPAIS DA CARTA
A Carta aos Filipenses não pode ser reduzida a uma apresentação de sequência lógica, porque se trataria de uma composição de várias
missivas, de forma um tanto frouxa, que abordam diversos temas. Trata-se da mais pessoal das epístolas escritas por
Paulo, a mais reveladora da emotividade do
apóstolo dos gentios. Temos aqui uma combinação
de notas pessoais, explosões de advertência,
de ação de graças e de ternura, reflexões
profundas e denúncias extremamente amargas.
1. O tema da alegria aparece de maneira mais pronunciada nesta epístola do que
em qualquer outro dos escritos de Paulo. Isso pode parecer-nos estranho,
considerando-se as circunstâncias tão adversas sob as quais ela foi redigida, pois
Paulo se encontrava aprisionado, e pairavam tão graves ameaças sobre ele que
ele já pensava que o martírio era uma delas. Porém, no capítulo final desta epístola Paulo
diz-nos como já havia aprendido a estar contente, nas diversas vicissitudes da
vida. Seria uma espécie de estoicismo cristão, produzido por uma vida de
intensos e constantes sofrimentos, que o apóstolo sempre atribuía à vontade de Deus,
como acompanhamento necessário tanto para a propagação do Evangelho como para o
desenvolvimento espiritual do crente (cf. Fp 1:3,4; 1:25; 2:1,2,16-18,28; 3:1,3;
4:1,4,5,10).
2. A razão
dos sofrimentos e o triunfo deles sobre os mesmos é outro dos temas
centrais desta epístola. O martírio de Paulo era considerado como algo possível,
embora ele esperasse que o seu ministério se prolongasse algum tempo mais, não
para sua própria vantagem e alegria, mas para vantagem deles. Sobre isso se
manifesta a maior parte do primeiro capítulo, além dos trechos de Fp 2:15,17 e
4:1. Paulo pensava que os crentes de Filipos continuariam a enfrentar perigos
similares aqueles que ele mesmo tinha de enfrentar, como perseguições e vários sofrimentos
e abusos, incluindo a própria morte (Fp 1:27-30). Não obstante, Paulo diz que os
sofrimentos dos crentes fomentam o progresso do Evangelho (Fp 1:12).
3. Paulo sustenta nesta epístola a sua esperança no retorno de Cristo Jesus para
breve. Ele foi capaz de olvidar os seus sofrimentos em vista da fé que a
parousia (a segunda vinda de Jesus) haveria de apagar de vez a agonia do ódio e
da hostilidade dos homens, soerguendo os crentes ao nível da glória de Cristo.
Ele sabia que a sua morte ocorreria antes disso (Fp 1:23), mas mesmo assim
continuava embalando a esperança que a segunda vinda de Cristo se verificasse durante
sua vida terrena (cf. Fp 1:6,10; 2:10,11,16; 3:20,21 e 4:5).
4. Havia ainda a necessidade de exortar a Igreja em Filipos à coesão e à
humildade, que consiste da participação na atitude mental de Cristo; e isso
levou Paulo a compor sua mais profunda declaração concernente à humanidade de Cristo,
à Sua missão humana, à Sua humilhação, ao Seu triunfo em Sua missão terrena e à
Sua exaltação aos lugares celestiais, que redundara em Sua supremacia sobre
tudo quanto há na criação. Entre as epístolas de Paulo, essa é a mais completa afirmativa
sobre esse assunto (cf. Fp 2:1-11). Nenhuma outra passagem paulina pode
comparar-se com essa, sobre a humanidade de Jesus Cristo.
5. A advertência
contra os legalistas ocupa a primeira porção do terceiro capítulo desta epístola,
sendo uma das declarações mais amargas de Paulo acerca desses inimigos do Evangelho,
o que também constituía um dos principais problemas que havia na Igreja cristã
primitiva.
6. Essa necessidade de assim pronunciar-se
contra o legalismo, levou o apóstolo Paulo a expressar sua própria dedicação suprema à Cristo, o seu alvo e os seus propósitos
na vida, seus anelos espirituais mais profundos, tudo o que viera a fazer parte
de sua vida, quando ele repelira o tipo de fé religiosa que caracterizava os
legalistas, os quais se orgulhavam em diversas relações humanas, como a descendência
física ou como as realizações religiosas. Não podemos ocultar que há certo
aspecto apologético nesta secção (3:4-16), porquanto Paulo repreendeu aqueles que
continuavam confiando em uma forma de ufania humana, a qual anteriormente o
caracterizara como intenso fariseu que ele fora. Essa atitude errônea agora
parecia atrair a certos crentes, que se imaginavam “perfeitos”, assim
enganando-se a si mesmos. Paulo nos mostra, na presente secção, que nem mesmo
ele podia reivindicar qualquer coisa semelhante à perfeição nesta vida; antes,
continuava a esforçar-se em direção ao alvo ideal e elevadíssimo, que ainda não
havia atingido.
7. O trecho de Fp 4:10-20 constituiria a carta de agradecimento. Os crentes de
Filipos, em mais de uma ocasião, em contraste com tantas outras Igrejas da época
apostólica, haviam enviado algum dinheiro a Paulo, a fim de ajudá-lo em suas situações
financeiras tão estreitas. Portanto, aqueles crentes haviam dado o exemplo de
como a Igreja Cristã, em qualquer era, deve interessar-se por suprir ativamente
as necessidades daqueles que “vivem do Evangelho”. O ideal do AT sobre uma
casta sacerdotal, que vivia das ofertas voluntarias do povo, é aqui aprovado e confirmado; mas não como uma
espécie de esmola, conforme essa prática
tem sido tão frequentemente reduzida, e, sim, como dever da Igreja local, interessada em obedecer aos mandamentos de
Cristo, para que fosse por todo o mundo e pregasse o Evangelho a toda a
criatura. As doações monetárias ao trabalho missionário da Igreja e uma
garantia de que Deus abençoará ao doador e lhe suprira as suas necessidades, conforme
nos mostra a passagem de Fp 4:19.
8. Paulo repreendeu também a contenda que surgira na Igreja dos
filipenses, resultante de certo orgulho e egoísmo, por parte de membros que
tinham aprendido a desprezar a outros. Paulo conclamava aquela Igreja local à
unidade em Cristo, como meio seguro de eliminar desordens dessa natureza (Fp
4:2,3).
9. A Carta aos Filipenses contém uma das mais
excelentes exortações quanto à pureza íntima,
quanto à maneira de pensar, quanto
ao estado de consciência, a qual
deve resultar em ações externas piedosas (cf. Fp 4:8). É fato sobejamente
conhecido que nossas ações procedem da
maneira de pensar. Se tivermos de manter ações santas nesta vida, essas devem ter inicio na fonte, isto é, nos pensamentos. O crente está na obrigação moral de resguardar o santuário
de sua mente e de sua alma, cultivando-o com a mensagem da graça de Cristo.
Trata-se do mesmo conceito que foi desenvolvido em Rm 12:1,2. Fica suposto que
a vida interior dos pensamentos, se for cuidadosamente cultivada e resguardada,
garantirá uma vida de pureza e utilidade nas mãos de Deus. Naturalmente que
essa é uma ideia central de Cristo, que afirmou que todos os grandes pecados têm
sua origem na mente, nos motivos, que finalmente produzem as ações malignas e
erradas. Isso é o que também se aprende, em vários trechos do Sermão do Monte (cf.
Mt 5-7). Com isso concorda aquela expressão que diz o homem é aquilo que pensa.
4. CONTEÚDO DA CARTA
Visando prover uma visão geral do conteúdo
desta maravilhosa Epístola, apresentamos,
a seguir, um esboço de seu
conteúdo geral:
I. Introdução (1:1-11)
1. Endereço e saudação (1:1,2)
2. Ação de graças, oração e confiança (1:3-11)
II. Paulo, um prisioneiro cheio de esperança e alegria (1:12-26)
III. O exemplo de Paulo era um consolo para os crentes que sofriam (1:27-2:18)
1. Humildade, segundo o exemplo de Cristo
(2:1-4)
2. A humildade e a encarnação de Cristo. Essa
humilhação propiciou lugar para sua exaltação. Cristo tinha natureza humana
verdadeira e foi exaltado por haver completado de forma magnífica a Sua missão como
homem (2:5-11)
3. O supremo exemplo de dedicação, deixado
por Cristo, leva o crente a aceitar várias obrigações morais (2:12-18)
V. Timóteo e Epafrodito são enviados. Deveriam ser acolhidos como representantes de Paulo e tratados como tais (2:19-30)
1. Contra os judaizantes (3:1-3)
2. Rejeição pessoal de Paulo aos legalistas e
aos valores ditados pelo orgulho humano, paralelamente aos seus novos alvos
espirituais em Cristo (3:4-16)
3. Necessidade de uma vida cristã coerente
(3:17-21)
Nenhum comentário:
Postar um comentário