LIÇÃO 02 – PAULO E TIMÓTEO, SERVOS DE JESUS CRISTO
INTRODUÇÃO
Hoje, estudaremos os vv. 1 e 2 do primeiro
capítulo da Carta aos Filipenses. Ainda que os presentes vv, sejam, apenas, o
endereçamento e a saudação da Carta, com certeza serão momentos proveitosos e
edificantes.
1.
PAULO E TIMÓTEO, SERVOS DE JESUS CRISTO
Muitos elementos são comuns nas introduções das
epístolas paulinas. Mas aqui temos aqui a inclusão de dois nomes, do próprio
Paulo e de Timóteo como servos (gr. δοῦλοι doûloi). Paulo não escreve aos crentes em Filipos
de sua posição de apóstolo, mas de sua
posição ao lado deles, em jugo com
eles no serviço ao Senhor. Importante observar que nas outras epístolas
escritas na prisão (Efésios, Colossenses e Filemom), Paulo se considera um apóstolo. Aqui, ele começa intitulando
a si mesmo e a Timóteo de servos.
Esse título confirma Timóteo (Fp 2:19-23), Epafrodito (Fp 2:25-30) e Paulo (Fp
3:7-9) como indivíduos que demonstram a mesma atitude de um servo de Cristo (Fp
2:5-8), o que serve para demonstrar que a verdadeira liderança no Corpo de
Cristo é uma questão funcional e não de honraria, pois todos somos, e devemos
ser, servos de Cristo!
A inclusão do nome de Timóteo aqui também
merece análise. Seu nome é associado ao de Paulo aqui, na segunda epistola aos
Coríntios e nas duas epistolas aos Tessalonicenses. Timóteo ajudou o apóstolo
na fundação da Igreja de Filipos (cf. At 16:1,13 e 17:14). Duas visitas de Timóteo
a Filipos são registradas, em At 19:22 e 20:3,4. Por esta altura dos
acontecimentos, Timóteo estava se preparando para fazer sua terceira visita ali
(cf. Fp 2:19). Sua única participação nesta Epístola aparece na introdução e na
saudação, e também em Fp 2:19. É possível que Timóteo tenha sido o amanuense de
Paulo nesta Epístola, como também seu portador, embora a maioria dos eruditos
atribua essas funções a Epafrodito (cf. Fp 4:18). Parece que nesse tempo Lucas
se encontrava em companhia de Paulo (cf. Cl 4:14), não sabendo nós por qual
motivo ele não é mencionado aqui. É possível que quando esta Epístola foi
escrita, ele já houvesse deixado a localidade. Lucas também estivera associado
a Paulo em Filipos. Naturalmente, se a presente Epístola foi escrita em uma prisão
diferente, em uma outra cidade, diferente daquela prisão e cidade associadas a
escrita da Epístola aos Colossenses, então Lucas não estaria mais em companhia
de Paulo.
Outra expressão de destaque é o adjetivo santos
(gr. ἁγίοις hagíois), indicando aqueles que são separados para Deus e
refere-se a todos os cristãos em Filipos. Trata-se não apenas de mera
formalidade vocativa, mas de característica essencial, pois é exatamente assim
que Deus nos vê, santos!
Temos, ainda, a palavra bispos (gr. ἐπισκόποις episkópois, verbete que remete
àqueles que cuidavam do bem-estar espiritual da Igreja local ou de um grupo de
Igrejas locais), possível sinônimo de anciãos e presbíteros em outras
passagens, (At 20:17 e Tt 1:5,7, respectivamente). Eram os principais
administradores da Igreja. Por derradeiro, encontramos o vocábulo διακόνοις diakónois, diáconos) que alude
aos que serviam à congregação em funções especiais no culto. Eram responsáveis
por tratar das questões materiais da Igreja (At 6:1-7). A menção desses dois
grupos sugere que a Igreja de Filipos havia crescido consideravelmente desde a
primeira visita de Paulo (At 16:12-34), ocasião em que a Igreja foi fundada.
2.
SOMENTE PASTORES E DIÁCONOS?
Embora este não seja o grande tema da Carta
aos Filipenses, cremos ser este o momento oportuno para enfatizar que o NT não
se ocupa em descrever de forma detalhada as peculiaridades das funções
eclesiais desenvolvidas no primeiro século, uma vez que naqueles tempos não havia
o sentido eclesiástico que esses termos assumiram posteriormente, pois não se
referiam a qualquer “posição clerical” em oposição ao “corpo laico”. Contudo, desde
o principio indicavam ofícios e funções formais no seio da Igreja local e até entre
congregações gentílicas.
Precisamos notar que o precedente do governo eclesiástico
na Igreja tinha por modelo a sinagoga, que contava com vários oficiais, como se
pode depreender de Mt 4:23 e Lc 4:33. Ora, Paulo, sendo judeu, naturalmente
padronizou o corpo liderante das Igrejas cristãs locais segundo o estilo geral
das sinagogas judaicas. Os líderes dessas sinagogas eram os “anciãos”, havendo
em cada sinagoga vários deles, e não apenas um. Entre eles, como primeiro entre
iguais, havia o “principal” da sinagoga (cf. Mc 4:22; At 13:15 e 18:8). Era
este último quem supervisionava as reuniões de culto, mormente para certificar-se
que as corretas tradições estavam sendo seguidas. Também havia um “assistente”
(cf. Lc 4:20), que cuidava dos rolos, trazendo-os para serem lidos e castigando
aos membros culpados com açoites, além de ter o dever de ensinar as crianças a
ler. Também havia aquele que dispensava as esmolas (papel assumido pelos “diáconos”
nas Igrejas locais cristãs), embora também fosse um líder espiritual.
Finalmente, havia o “intérprete”, uma espécie de mestre-escola, cuja função era
a de parafrasear os livros da lei e dos profetas, traduzindo-os para o aramaico
vernáculo, que se tornou o idioma popular na Palestina após o exílio babilônico.
Pode-se ver como, em termos gerais, a Igreja cristã tomou por modelo os
oficiais das sinagogas judaicas.
3.
GRAÇA E PAZ DA PARTE DO PAI E DO SENHOR JESUS
Esta parte da saudação é comum a todas as epístolas
paulinas, e os seus elementos são normalmente inclusos novamente nas bênçãos finais.
Segundo alguns estudiosos, podemos ver nessa saudação simples uma indicação sobre
a maneira de viver, sobre certo ponto de vista da vida, como a própria antítese
do secularismo moderno, que aflige tanto o mundo como a Igreja cristã da era
moderna: a maneira cristã de viver, estabelecida desde a eternidade, de conformidade
com nossa transformação segundo a imagem de Cristo, o que requer entrega
absoluta do ser e da personalidade próprias a Deus, uma visão contínua da
grandeza do chamamento cristão. Por isso é que somos “escravos” de Cristo Jesus
e de Deus, nosso Pai. Isso requer a manutenção da relação a uma comunidade ímpar,
a Igreja, “em Cristo”, todos os quais têm comunhão espiritual com o Senhor. Há também
o dom do poder e do amor, a saber, da “graça”, que vem da parte de Deus, por intermédio
de Cristo Jesus, em Quem recebemos todas as bênçãos espirituais vindas de Deus
Pai.
Nenhum comentário:
Postar um comentário